Prof. Marcio Carneiro

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sexta-feira, 11 de março de 2011

Neo-expressionismo

Definição

O termo indica a retomada, sobretudo na Alemanha, de certos traços do expressionismo, a partir de 1970. Ainda que a pauta expressionista ofereça um parâmetro mais geral para a nova produção, os rendimentos que essa matriz vai encontrar nos diferentes centros nacionais - por exemplo na Itália e Estados Unidos, onde reverbera - e nos diversos artistas são flagrantes. Em solo alemão, as experiências de vanguarda realizadas por Joseph Beuys (1912-1986) e a atmosfera altamente politizada da década de 60 têm impactos decisivos na produção de vários jovens artistas, entre eles, Jörg Immendorff (1945). A produção de Immendorff traduz, desde o início, uma tentativa de articulação da pintura com compromissos sociais e políticos. Entre 1968 e 1970, os trabalhos do artista testam a linguagem infantil como alternativa às convenções artísticas de corte burguês, o que se evidencia nas pinturas Lidl. A partir dos anos 70, os trabalhos de Immendorff apelam ao didatismo das ilustrações e das legendas, numa opção explícita pela simplificação e busca de inteligibilidade. Em seguida, o repertório do artista se amplia, fazendo conviver nas telas as motivações políticas, os símbolos nacionais e o movimentos da psique e do sonho, como em Alemanha Café III (1978). Os nomes de Georg Baselitz (1938), A. R. Penck (1939) e Anselm Kiefer (1945) aparecem como fortes representantes da nova tendência plástica no eixo Colônia-Dusseldorf, onde também atuam Markus Lüpertz (1941), Per Kirkeby (1938) e Sigmar Polke (1941). À Berlim, por sua vez, se associam os nomes de Karl Horst Hödicke (1938), Salomé (1954), Rainer Fetting (1949), Helmut Middendorf (1953) e Bernd Zimmer (1948).


As memórias da guerra, as marcas deixadas pelo nazismo no país e a tematização de certa identidade nacional problemática são referências para Baselitz, Penck e Kiefer, ainda que os temas conheçam inflexões distintas, em cada um deles. Baselitz mobiliza um amplo repertório de símbolos em suas telas coloridas e viscosas. As figuras de cabeça para baixo que produz tornam-se uma espécie de assinatura do artista - por exemplo, Palhaço (1981), Último Jantar em Dresden (1983). Penck (Ralf Winckler), também adepto da figuração, é bem mais explícito no que diz respeito às inclinações políticas. Suas telas almejam a comunicação (de modo semelhante a Immendorf), assim como fazem os sinais e placas públicas. O seu Standart (1971) parece guardar alguma relação com as inscrições feitas nos muros, ainda que faça referências expressas ao vocabulário de signos e à cibernética, caros ao artista. A obra de Kiefer adquire expressão internacional por ocasião da 39ª Bienal de Veneza (1980), quando expõe com Baselitz, e são chamados de novos fauves. Sua produção combina fontes diversas: a história alemã e os símbolos nacionais; o imaginário e a memória; a mitologia e as religiões. O uso livre que faz desses repertórios encontra tradução plástica em telas de grandes dimensões, com o auxílio de materiais díspares: a palha, o chumbo, as pastas de pigmentos, os diversos elementos da natureza. A combinação da matéria natural com um universo mitológico, mágico e espiritual liga diretamente o nome de Kiefer ao de Beuys, ainda que a forte marca autoral do primeiro seja indiscutível, basta lembrarmos Quaternity (1973) e Canção de Wayland - com asa (1982), entre outros. Os livros, criados desde 1968, são outra via importante da produção de Kiefer, por exemplo, As Mulheres da Rrevolução (1987), em cujas páginas de chumbo convivem plantas secas, pigmentos, texturas etc.


Na Itália, o desenvolvimento do neo-expressionismo sofre influências da arte povera, especialmente pelo destaque conferido às forças primárias da natureza e à tematização do lugar do homem como um elemento, entre outros, da natureza. Sandro Chia (1946), Enzo Cucchi (1950), Mimmo Paladino (1948) e Francesco Clemente (1952) - algumas vezes agrupados sob o rótulo transvanguarda - não constituem um movimento, mas compartilham, entre outras coisas, a opção figurativa e as referências vivas à história da arte. Em Sandro Chia e Enzo Cucchi predomina o enfoque simbólico, como em O Carregador de Água (1981), do primeiro, e Não Deve ser Dito (1981), do segundo. As composições de Clemente, por sua vez, combinam desenhos de pequenos formatos, que funcionam como notações simultaneamente dispostas, como em Míriades (1980). Nos Estados Unidos, os nomes de Julian Schnabel (1951), Robert Longo (1953) e Jonathan Borofsky (1942) podem ser lembrados como representantes de uma versão particular do neo-expressionismo. Schnabel possui uma obra de corte abstrato, no interior da qual se destacam grandes pinturas sobre superfícies cobertas de pratos quebrados, cacos de cerâmica, chifres de animais e galhos de árvores, realizadas a partir de finais da década de 1970. Essas telas inusuais parecem guardar alguma relação com as escavações arqueológicas que recompõem, a partir de vestígios e traços, objetos e civilizações. As grandes dimensões das pinturas - em que é possível entrever sinais e citações conhecidas - são retomadas nas esculturas monumentais em bronze da década de 1980, por exemplo, Balzac e Marie (ambas de 1983). Os desenhos, por sua vez, embora composições abstratas, permitem a localização de formas vegetais, corpos e objetos. A obra de Schnabel é afetada de perto pelas construções de Antoni Gaudí (1852-1926) e pela obra de Beuys. No Brasil, influências do neo-expressionismo podem ser percebidas nos artistas da Casa 7 - Nuno Ramos (1960), Paulo Monteiro (1961), Fábio Miguez (1962), Rodrigo Andrade (1962) e Carlito Carvalhosa (1961) -, nas pinturas de Daniel Senise (1955), Jorge Guinle (1947-1987) e Cristina Canale (1961), assim como em trabalhos de Leda Catunda (1961) e Omar Pinheiro.

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